01/06/2025 às 21:00 Artigo Acadêmico

Mitos gregos: visões de mundo que orientam as ações.

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16min de leitura
Por Darci Martins |

RESUMO

Mitos gregos Antigos são muito mais que entretenimentos para séries e filmes, são visões de mundo que orientaram as ações humanas, dando sentido aos acontecimentos e fenômenos, explicando-os. Porém, foi necessário problematizar se seria possível selecionar alguns mitos para verificar se ainda representam, simbolizam e orientam as ações no cotidiano das pessoas, com objetivo de afirmar a atemporalidade das narrativas ao longo da história e suas funções. Para tal empreitada a metodologia usada foi revisão narrativa e pesquisa qualitativa com informações reunidas a partir de revisão bibliográfica que demonstraram a importância dos mitos e como contribuíram na orientação humana, para delimitar e explicitar melhor este estudo, foram selecionados os mitos de Pandora e Sísifo, que resultaram em conclusões sólidas sobre as funções das narrativas mitológicas com destaque para temas que elucidaram a vida orientada concretamente para perseverança, esperança, responsabilidade, busca e criação de sentido para a vida, alcançando, inclusive, funções de orientações para educação, antropologia, sociologia, psicanálise e psicologia. Concluiu-se, em síntese, que os mitos estão entrelaçados no tecido social, orientando concretamente as ações humanas atemporalmente. Os pontos negativos da pesquisa estão na inviabilidade de escolher grande número de exemplos míticos e aprofundar suas análises, o que propiciaria melhor compreensão de suas funções para além do proposto nesta pesquisa, o que claramente abre a possibilidade de pesquisas futuras.

PALAVRAS-CHAVES

Mito; ações; orientam; Pandora; Sísifo.

ABSTRACT

Anciente Greek myths are much more than entertainment for series and films, they are wordviews that guided human actions, giving meaning to events and phenomena, explain them. However, it was necessary to question whether it would be possible to select some myths to check whether they still represent, symbolize and guide actions in people´s daily lives, with the aim of affirming the timelessness of narratives throughout history and their functions. For this endeavor, the methodology used was narrative review and qualitative research with information gathered from a bibliographical review that demonstrated the importance of myths and how they contributed to human guidance. To better define and explain this study, them myths of Pandora and Sisyphus were selected, which resulted in solid conclusions about the functions of mythological narratives, highlighting themes that elucidated life oriented concretely towards perseverance, resilience, hope, responsibility, search and creation of meaning for life, even achieving the functions of guidelines for education, anthropology, sociology, psychoanalysis and psychology. In summary, it was concluded that myths are intertwined in the social fabric, concretely orienting human actions timelessly. The negative points of the research are the impossibility of choosing a large number of mythical examples and deepening their analyses, which would provide a better understanding of their functions beyond what is proposed in this research, which clearly opens up the possibility of future research.

KEYWORDS

Myth; shares; guide; Pandora; Sisyphus.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A estrutura lógica desta pesquisa apresenta inicialmente vários exemplos de como as narrativas míticas nortearam os povos desde suas criações até o mundo contemporâneo. Isto se deve à suas capacidades de adaptação às contingências de cada período histórico, seja oferecendo respostas para os fenômenos naturais, trazendo sentido ao que não tinha explicação, seja como meio para explicar os funcionamentos psíquicos, sociais, antropológicos e vivências diárias. Os autores citados trazem clareza ao tema, reforçando a atemporalidade dos mitos e como fundamentaram um solo firme para representar e simbolizar as experiências que a vida proporciona. Na sequência são apresentados os mitos de Pandora e Sísifo, analisados em detalhes para certificar o quanto foram e podem ser utilizados para dar sentido às nossas vidas, articulando temas como perseverança, resiliência, persistência, busca de sentido, esperança, responsabilidade e ações concretas no mundo. Concluindo, finalmente, o papel dos mitos na existência e história humana.

Desde suas origens, os mitos orientam as ações humanas por serem narrativas que explicam os fenômenos observados, promovendo sentido ao cotidiano humano. Apesar da filosofia nascer à medida que os mitos foram questionados, não perderam sua importância frente ao raciocínio lógico e formal filosófico, aliás, muitos foram os filósofos que utilizaram narrativas míticas para sustentar suas ideias.

Restringindo-nos aos Antigos mitos gregos, é possível selecionar alguns para demonstrar que foram e são fontes de orientações das ações humanas, já que representavam e representam o cotidiano das pessoas?

Portanto, esta pesquisa objetiva demonstrar que os Antigos mitos gregos foram e são orientadores das ações humanas ao longo da história. Também objetiva selecionar dois mitos Antigos gregos e avaliá-los para mostrar que são metáforas contemporâneas de nosso cotidiano.

Este estudo baseia-se em revisão narrativa e pesquisa qualitativa, as informações serão reunidas a partir de revisão bibliográfica que demonstre a importância dos mitos e como contribuíram para orientar as ações. Para delimitar melhor a pesquisa, foram escolhidos dois mitos gregos Antigos, considerando a divisão histórica em período Antigo, Médio, Moderno e Contemporâneo.

Até hoje existe a crença de que mitos são apenas ficções ou contos fantasiosos que geram entretenimento, historicamente são muito mais que isso, esta pesquisa justifica-se e possui relevância pela necessidade de demonstrar quão importantes são os mitos como orientadores para nossas ações, pois visam explicar o cotidiano e dar-lhe sentido, gerando identificação para os que neles se apoiam.

DESENVOLVIMENTO

Na contemporaneidade os mitos ganharam bastante notoriedade como fonte de entretenimento, sendo exibidos constantemente em filmes, séries e contos fantásticos. Perderam, em certa medida, suas funções sociais originais de representar o cotidiano humano e trazer-lhes metáforas para embasar suas ações e visões críticas de mundo. Os mitos visavam dar sentido à realidade, como afirmam Junior e Lopes:

Diante disso, podemos afirmar, por um lado, que os mitos têm uma função de representar essa primeira tentativa de atribuir sentido à realidade, procurando – por meio de rituais que atualizam os mistérios sagrados narrados pelos mitos – fazer com que os gregos conseguissem conviver em um mundo caótico, de incertezas e falta de conhecimento sobre a natureza. Por outro lado, esses mitos apresentam um caráter moralizante, que dita o que os homens devem ou não fazer com base em preceitos morais predeterminados nas narrações míticas.

Junior e Lopes, 2015, p. 51)

Observando a citação acima, podemos afirmar que mitos são formas do ser humano se circunscrever no mundo, de encontrar seu lugar. As narrativas míticas, quando analisadas, demonstram os anseios das pessoas em seus contextos históricos, seus medos, desejos e emoções, dentre outros afetos e sentimentos. Propiciavam explicação para os fenômenos da natureza que, até então, não eram observados pelo prisma da ciência, como atestam Junior e Lopes:

É por esse fato que algumas figuras mitológicas são associadas aos elementos da natureza: quando chovia e surgiam os raios, os gregos, associavam esses fenômenos à fúria de Zeus, quando o mar estava revolto, associavam a agitação marítima a uma ação direta de Poseidon contra os seres humanos que navegavam pelos mares.

Junior e Lopes, 2015, p. 48)

É necessário compreendermos algumas funções das narrativas míticas para posteriormente atestá-las como orientadoras e representantes das ações humanas. Afinal, ao criar as mitologias, lhes foram dadas características que projetavam e projetam qualidades emocionais, com pensamentos atrelados aos desejos humanos, e os rituais míticos deveriam tornar-se ações concretas. Assim nos dizem Junior e Lopes:

Com função de acalmar o espírito, dos homens e tranquilizá-los diante de um mundo assustador, cheio de pestes e doenças, catástrofes naturais e guerras, o mito, caracterizado por ações fantasiosas e mágicas, assegurava que o que acontecia na natureza dependia das ações ritualísticas: uma vez cumprido o ritual de maneira correta, as bênçãos dos deuses cairiam sobre ele; uma vez descumpridas tais ações, coisas ruins aconteceriam em forma de castigo pela desobediência.

(Junior e Lopes, 2015, p. 49)

É evidente que, no mundo pós-moderno, pouco se acredita na veracidade dos contos mitológicos. Por esta razão, podemos utilizá-los de maneira divertida ou descontraída; são narrativas cheias de mistérios, aventuras, romances, heróis, descobertas, seres imperfeitos, dilemas, maldições, maldizeres, punições, reviravoltas, consagrações e ensinamentos. Possibilitam visualizar nossos problemas mais cotidianos por assimilação, aproximação e comparação. Graves nos dá um exemplo disto:

Os semideuses dos mitos gregos são metade homens, metade deuses. Encontram-se entre dois mundos e não pertencem de fato a nenhum deles. Esta é uma metáfora poderosa para qualquer jovem, sobretudo nas séries intermediárias para as quais eu lecionava – com alunos, em geral, dos nove aos catorze anos. A exemplo de Teseu e Hércules, meus alunos se sentiam aprisionados entre dois mundos: a infância e a vida adulta. Esforçavam-se para lidar com a própria identidade e com a lealdade à família e aos amigos.

(Graves, 2018, p. 13)

A atemporalidade dos mitos reforça que, para além dos momentos históricos em que surgiram e ganharam forma, servem como base para nossas ações contemporâneas pela capacidade de adaptarem-se aos mais variados contextos. É preciso apenas reinterpretá-los segundo as contingências de cada época, sociedade, cultura ou religião. Graves afirma que:

Não importa quando ou onde víamos: podemos encontrar sentido nos mitos porque suas variações e interpretações são inúmeras. Não há resposta certa, na mitologia grega. Como nasceu Dionísio? Depende da versão que você lê. Como Hefesto se tornou manco? Adote a história que você achar melhor. Quando dei início a série Percy Jackson, estava certo de que abordaria todos os principais elementos do mito grego em cinco livros. Que equívoco! Hoje vejo que mal arranhei a superfície. Uma vez que as histórias foram contadas de muitas maneiras distintas ao longo dos séculos, uma vez que elas são extremamente adaptáveis a novas culturas e a cada leitor em particular, o mito possui uma qualidade prismática. Ele sempre parece diferente.

(Graves, 2018, p. 15)

A capacidade adaptativa da mitologia e suas funções orientam, inclusive, áreas da ciência. Foram inúmeras vezes usadas para embasar teorias da psicologia e psicanálise. Freud estabelece suas bases fundamentais afirmando que todos nós desenvolvemos um complexo de Édipo, tomando como exemplo o mito edípico, que sugere que ele está presente na constituição do sujeito, como atesta Quinet:

Com o desenvolvimento do conceito de complexo de Édipo completo, em 1923, em “O eu e o isso”, Freud reintroduz a bissexualidade nesse processo de constituição do sujeito sexuado a partir da relação subjetiva e desejante deste com o Outro parental. Nesse texto, Freud chamou de complexo de Édipo simples o que foi banalizado pelo senso comum como “complexo de Édipo”: o menino deseja a mãe e quer eliminar o pai; a menina deseja o pai e quer eliminar a mãe. Esse complexo simples pode ser “positivo” ou “invertido”.

(Quinet, 2015, p. 22)

Freud também sugere que o mito de Édipo é constituinte não apenas de cada sujeito em sua singularidade, mas de toda a humanidade desde suas origens. Essa afirmativa freudiana pretende universalizar este mito como estruturante da psique coletivamente, passando de geração para geração. Como demonstra Junior:

Freud formulou o famoso princípio do “complexo de Édipo” com base na tragédia grega Edipos rei, de Sófocles. Sua tese é a de que a tragédia descrita na obra não está circunscrita à cultura grega, mas pertence a toda humanidade. Assim, os “resíduos arcaicos” presentes na psique do homem moderno o ligam ao homem de todas as gerações: os mitos não estão rstritos às culturas, mas revelam determinadas características que pertencem a todo gênero humano.

(Junior, 2015, p.91)

Agora que estão claras e embasadas as funções dos mitos, que transcendem no tempo histórico enraizando-se no tecido da existência humana, podemos afirmar que foram e podem continuar sendo instrumentos balizadores do cotidiano, utilizados como artifícios educacionais, morais, sociais, antropológicos, transmissores de valores – verdadeiros contribuintes no desenvolvimento da sociedade e suas ciências. Portanto, vamos conhecer dois mitos que nos ajudam a enfatizar essas afirmações, são eles, de Pandora e sua caixa e o de Sísifo.

Por ordem de Zeus, Hefesto criou Pandora, a primeira mulher do mundo, como vingança e retaliação ao titã Prometeus, pois havia criado o homem sem sua autorização. Além disso, Prometeus roubou o fogo do Olimpo e entregou aos homens, já que não possuíam habilidades semelhantes aos outros animais, deixando Zeus irritado. É importante ressaltar que o homem neste contexto refere-se ao gênero masculino e não a humanidade.

Zeus ordena a criação da mulher para efetuar uma vingança contra todos os homens e a entrega de presente ao irmão de Prometeus, chamado Epimeteu. Com ela lhe foi dado um jarro, ou caixa, com advertências explícitas para que nunca fosse aberta. No entanto, a tentação humana foi mais forte, ao abri-la, os males até então preservados foram lançados aos homens espalhando-se em toda a humanidade. Tristezas, doenças, vinganças, inveja e todos os tipos de sofrimentos, levando os homens a perderem sua inocência e, consequentemente, isto se espalhou além do gênero masculino. O curioso deste mito é que, após a liberação dos males, algo permaneceu na caixa, a esperança. (Silva, 2024)

É possível afirmar claramente que a primeira interpretação possível sobre este mito é que explica a origem do bem e do mal no mundo humano, e porque agimos de maneira contraditória. Aponta o contradito como condição humana, já que passamos a ter dualidades quanto aos comportamentos, sentimentos e emoções. Pandora, já dotada de sentimentos humanos, foi consumida pela curiosidade e abriu a caixa dando vazão as mazelas, nos orientando que toda ação terá consequências. Porém, algo permanece como acalento: a esperança, um sentimento fonte de resiliência e resistência em momentos aterradores. Como afirma Carter:

Esse mito não é apenas uma explicação fantástica sobre as origens do bem e do mal no mundo; ele fala diretamente à essência da condição humana. A história de Pandora ressoa com a realidade de nossa própria existência, onde a beleza e a dor coexistem, onde a curiosidade nos leva a aprender e descobrir, mas também pode nos conduzir a consequências inesperadas. É um lembrete de que cada ação tem seu peso, que a tentação é uma parte intrínseca da vida e que as consequências são muitas vezes um tecido complexo de escolha e destino.

(Carter, 2024, p. 513)

O mito de Pandora é uma metáfora que simboliza e orienta as ações humanas, demonstrando a necessidade de precaução em relação à curiosidade. Ensina que é necessário responsabilidade com cada escolha feita, já que não há garantias quanto ao futuro subsequente.

Essa narrativa é um orientador ético que pode ser aplicado à sociedade contemporânea. Afinal, a atualidade é regida por mudanças rápidas que exigem decisões constantes em cada momento e qualquer ambiente. As contingências do mundo atual são melhor compreendidas quando temos esse mito como orientador, pois a esperança fornece a perseverança e resiliência necessárias nos momentos de incertezas e dificuldades. Pandora transcende o tempo Antigo e chega até nós extremamente atual e aplicável, fonte extraordinária de conhecimento e símbolo de funcionamento da estrutura humana. Uma vez explicitado o mito de Pandora e algumas de suas funções, passemos ao próximo, Sísifo.

Segundo o mito grego, Sísifo era rei de Corinto; seus pais foram Enarete e Éolo, e tinha Mérope como esposa. Sísifo foi testemunha do sequestro de Egina por uma águia, a mando de Zeus. Egina era filha de Asopo, deus dos rios, que ficou profundamente perturbado com o desaparecimento da filha.

Ao ver a angustia de Asopo, Sísifo pensou em se beneficiar da informação que possuía e revelou que Zeus era o responsável pelo sequestro. Entretanto, em troca, pediu a Asopo que criasse uma fonte em seu reino, pedido que foi lhe concedido. Zeus descobriu que Sísifo o denunciou, ficou enfurecido e enviou Tânatos, deus da morte, para levá-lo ao submundo. Porém, Sísifo foi astuto e conseguiu ludibriar Tânatos, sugerindo que gostaria de presenteá-lo com um colar. Na realidade, o colar era uma corrente que o manteve preso e possibilitou sua fuga.

Com o deus da morte capturado, não houve mais mortes entre os mortais por algum tempo. Isto irritou Ares, deus da guerra, pois, não há como vencer batalhas se não houver baixas. O deus dirigiu-se a Corintos e libertou Tânatos para que ele completasse sua tarefa e levasse Sísifo para o submundo.

Sísifo, desconfiado dessa possibilidade, pede a sua esposa Mérope que não faça rituais fúnebres caso ele morra. Quando chega ao submundo, Sísifo é recebido por Hades, que lhe informa que sua esposa não fez o sepultamento adequadamente. Então ele pede ao deus dos mortos para voltar ao mundo dos vivos para repreender sua esposa; a permissão é concedida. De volta ao mundo dos vivos, Sísifo não retorna, enganando novamente os deuses. Ele foge com a esposa e vive uma longa vida, mas, por ser mortal, chega o momento em que deve retornar ao mundo dos mortos. Lá, ele se encontra com o deus que havia enganado e recebe uma punição severa: é condenado a um trabalho exaustivo e aparentemente sem sentido, rolar uma gigantesca pedra até o topo de uma montanha. No entanto, uma vez lá em cima, devido ao cansaço, a pedra rola abaixo e ele reinicia a jornada, trabalho que deverá ser realizado eternamente. (Aidar, 2024)

O castigo de Sísifo representa muito mais que apenas uma penalidade por enganar a vontade dos deuses; é um orientador referente à condição humana cotidiana, que tem em suas tarefas diárias repetições cansativas e aparentemente sem sentido. As atividades humanas, como trabalho, estudos, fazeres domésticos, dentre outros, impõem exaustivas rotinas com cumprimentos de horários, prazos e datas dia após dia. A labuta constante sem um claro propósito a torna desanimadora.

O mito nos conduz ao exercício de aplicar a criatividade e resiliência nos processos, descobrindo ou inventando propósitos em cada etapa do caminho, orientando que não há um prêmio ou desígnio no final, mas na jornada, como atesta Carter:

Em essência, o legado cultural e filosófico do mito de Sísifo é um testemunho de sua universalidade e atemporalidade. Ele ressoa em várias dimensões da experiência humana, provocando reflexão, inspirando criatividade e oferecendo consolo. A história de Sísifo nos desafia a contemplar a natureza de nossa existência, incentivando-nos a perseguir nosso caminho com coragem, persistência e uma consciente aceitação do intrincado bale entre esforço e futilidade, tudo isso enquanto continuamos a buscar nosso próprio significado e satisfação na grande rede da vida.

(Carter, 2024, p. 625)

A pedra de Sísifo também representa o fardo que cada humano carrega nas costas com muito esforço. Orienta-nos a pensar e questionar os objetos, os objetivos e quais seus significados para vida. Muitos destes parecem fúteis para os que de fora observam, mas que dão sentido a singularidade de cada um que as carregam. Fazendo lembrar que respeitar as diferenças é fundamental em mundo coletivo e culturalmente vasto. É no desafio diário e suas circunstâncias que os esforços possibilitam redefinir as visões e percepções, não apenas dos pesos carregados, mas daquilo que se apresenta de novo no caminho já conhecido. O próprio ato de esforçar-se já possui valor e aponta a perseverança do esforçado em não desistir de si. Sobre isso, Carter nos diz:

O mito de Sísifo, enraizado na mitologia grega, carrega implicações profundas para nossa compreensão contemporânea de trabalho, sucesso e felicidade. Esta antiga narrativa, que descreve Sísifo condenado a rolar perpetuamente uma pedra morro acima, apenas para vê-la rolar para baixo novamente, ressoa com questões atemporais sobre a natureza do esforço humano e o significado que atribuímos às nossas ações.

(Carter, 2024, p. 629)

Com esta citação, fica claro que o mito ultrapassou seu tempo original, orientou os Antigos mas também orienta as ações humanas contemporâneas, incidindo em pautas atuais nos mais variados âmbitos da existência humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa apresentou a mitologia grega Antiga como a maneira que os seres humanos tinham de se circunscrever no mundo e dar sentido à própria existência, localizando seus lugares na criação e estabelecendo explicação para a natureza, sentimentos e cosmos, já que não podiam explicar o mundo cientificamente. Isto leva a conclusão que, os mitos receberam características humanas, afinal lhes foram projetadas qualidades emocionais e pensamentos atrelados ao desejo humano. Na contemporaneidade, não usamos os mitos como explicação racional, pois a ciência tem essa função, mas podemos usá-los como orientadores para as nossas ações, devido suas características metafóricas e representacionais. Com isso, a pesquisa evidenciou a atemporalidade das narrativas mitológicas pela sua capacidade de adaptação aos mais variados períodos históricos, exigindo reinterpretações segundo as contingências de cada época. Conclui-se, com exemplos, que essa utilização adaptada se deu em vários âmbitos; a psicanálise e psicologia adaptaram o mito de Édipo para explicar a psique humana e a formulação do complexo de Édipo, por exemplo.

Com estas inferências claras, foram selecionados dois mitos que demonstram como são orientadores das ações humanas. São eles o mito de Pandora e sua caixa que não deveria ser aberta, mas foi, lançando ao mundo mazelas e sobrando na caixa apenas a esperança para se apegar. O segundo mito apresentado foi o de Sísifo, que após enganar demasiadamente os deuses, recebeu a maldição de rolar uma pedra morro acima, mas que eternamente rola morro abaixo quando Sísifo alcança o topo. Conclui-se, analisando ambas as narrativas, que versam sobre a vida humana e suas dificuldades, exigindo tomadas de decisões embasadas em persistência, perseverança, resiliência, sentido e propósito. Isso permitiu inferir e evidenciar que os mitos são atemporais e possuem características adaptativas que orientam as ações humanas para além dos momentos em que foram criadas, alcançando nossa época. Conclui-se também que as narrativas míticas se entrelaçam no tecido social como balizadoras de ações cotidianas, seja em âmbitos educacionais, sociais, antropológicos, existênciais, entretenimentos e muitos outros, sendo verdadeiras guias para reflexões e tomadas de decisões frente as contingências.

A quantidade de mitos disponíveis para análise é enorme, por isso muitos que são extremamente interessantes não foram selecionados para este trabalho, possibilitando continuidade em pesquisas futuras e aprofundamentos. Em síntese, foi possível analisar e concluir que a mitologia grega Antiga continua orientando práticas nos dias atuais. Permaneceram ao longo do tempo e fazem eco na existência humana como verdadeira fonte de referências.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIDAR, Laura. O mito de Sísifo com resumo e significado. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/sisifo-resumo-e-significado-do-mito/. Acesso em: 17 jun, 2024.

CARTER, M. Nathaniel. Biblioteca de mitologia grega. 1. Ed. [s.i.]: [s.n.], 2024. Disponível em: https://www.amazon.com.br/Biblioteca-Mitologia-Grega-Explorando-Verdades-ebook/dp/B0CW16VM27#detailBullets_feature_div. Acesso em: 20 mai, 2024.

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GRAVES, Robert. Os mitos gregos. 2. Ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2018.

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JUNIOR, A. D. B.; LOPES, L.F. Introdução à filosofia antiga. 1. Ed. Curitiba, PR: Intersaberes, 2015.

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JUNIOR, B. A. José. Introdução à mitologia. 1. Ed. {s.i.]: [s.n.]: Paulus Editora, 2015. Disponível em: https://www.amazon.com.br/Introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-MitologiaFilosofiaquest%C3%A3oebook/dp/B00RVRELI2/ref=tmm_kin_swatch_0?_encoding=UTF8&qid=&sr=. Acesso em: 18 jun, 2024.

QUINET, Antônio. Édipo ao pé da letra. 1. Ed. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2015.

SILVA, Daniel Neves. Caixa de Pandora. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/mitologia/a-caixa-pandora.htm. Acesso em: 17 de jun, 2024.

Artigo reorganizado para mídia online com a finalidade de conforto de leitura, sem apagar a estrutura textual e linguagem original.

Originalmente escrito para entrega à PUC como trabalho de conclusão da PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA E AUTOCONHECIMENTO: USO PESSOAL E PROFISSIONAL.

Orientador: Sérgio Augusto Sardi.

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01 Jun 2025

Mitos gregos: visões de mundo que orientam as ações.

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