27/05/2025 às 22:44 Artigo Acadêmico

Henri Wallon, o sujeito emerge da fricção.

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Por Darci Martins |

Este relatório elucida os principais pontos conceituais considerados ao estudar Henri Wallon e suas teorias sobre o desenvolvimento humano. Em resumo, serão apresentados os conceitos de psicogênese da pessoa completa, estágios do desenvolvimento, afeto, motor, cognitivo e as inter-relações entre eles. Este documento também apresenta as funções entre pensamento e linguagem como fontes para o avanço das representações e, que todos esses elementos interagem dialeticamente através da fricção entre o biológico e o meio social.

Conhecendo a teoria

Henri Wallon foi um pensador francês que viveu entre 1879 e 1962, foi graduado em Filosofia e Medicina, viveu em uma família que se cercava de intelectuais engajados em assuntos sociais e políticos, isto o influenciou a estar sempre engajado em debates sobre educação e sistemas de ensino (Souza, 2022).

Sua preocupação estava em compreender o desenvolvimento humano a partir do que chamou de psicogênese da pessoa completa, ou seja, a origem da psiquê. Não desconsidera as bases biológicas, mas entende que é o social que fornece os instrumentos para o desenvolvimento do psíquico, como afirma Souza (2022, p. 184 apud Almeida; Mahoney, 2016).

No processo de desenvolvimento infantil, apesar de considerar a importância das bases biológicas, Wallon atribui um peso maior às determinações sociais. Para ele, a influência do meio social torna-se muito mais decisiva na aquisição de condutas psicológicas. É a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução.

Souza (2022, p. 184 apud Almeida; Mahoney, 2016)

Sendo assim, a criança não nasce com consciência de si, não se sente como separada do outro e do meio, é pela socialização que sua consciência de individualidade se constrói e desenvolve (Souza, 2022).

Consideração importante a ser feita é que, para Wallon, além da realidade material ou concreta, a imaginação e representação também participam ativamente do desenvolvimento da criança. Sobre isto, Pott (2019, p. 122 apud Galvão, 1995) diz.

Para Wallon, o meio onde a criança vive e aqueles com os quais sonha são essenciais para a constituição do sujeito. Se o meio concreto é importante, igual o faz o meio imaginado, representado, desejado, sonhado. Assim, note que para Wallon o meio social não apenas constituído por aspectos materiais, concretos da realidade, mas também por afetos que permitem à criança imaginar situações fictícias, as quais também se constituem como importante fonte de desenvolvimento.

Pott (2019, p. 122 apud Galvão, 1995)

Até aqui já podemos concluir que a teoria walloniana considera que o sujeito e sua consciência se formam através das relações entre a criança e o meio social em que está inserida e sua capacidade de imaginação ou representação.

A perspectiva psicogenética de Wallon se divide em estágios que possuem interrelações entre os conceitos chamados de afetivo, motor e cognitivo. Antes de compreender as fases, é necessário entender estes três conceitos. O afetivo pode ser entendido da seguinte forma, Pott (2019, p. 123).

Neste sentido, pode-se pensar que o sujeito é afetado a todo momento, como, por exemplo, em uma situação de ensino em que o professor solicita ao aluno uma determinada atividade como a realização de um desenho, resultando na afetação da criança ao mesmo tempo que também é afetado. Neste sentido, a partir de uma concepção dialética, pode-se pensar que o sujeito afeta e é afetado pelas circunstâncias de seu meio social.

Pott (2019, p. 123)

Podemos sintetizar que afeto é tudo que afeta a criança e ao mesmo tempo é afetado por ela, desta fricção, dentre as próximas que ainda veremos, emerge o sujeito.

O motor enquanto conceito pode ser descrito da seguinte forma, de acordo com Pott (2019, p. 124 apud Almeida; Mahoney, 2016).

O conjunto motor ou movimento corporal permite ao sujeito deslocar-se no tempo e no espaço em relação as leis da gravidade, realizar movimentos voluntários ou intencionais do corpo ou partes dele e favorece a possibilidade de comunicação por meio de mímicas e expressões corporais diante de diferentes situações.

Pott (2019, p. 124 apud Almeida; Mahoney, 2016)

É possível inferir, após ler a citação acima que, o conjunto motor para além de suas funções biológicas, é fonte de expressões e futuras representações daquilo que a criança absorve e mimetiza nas suas relações com o outro. Desta maneira desenvolve sua comunicação e começa a construção e apropriação de ideias e imaginações.

Terceiro conceito a ser compreendido é o cognitivo, segundo Pott (2019, p. 124) é.

O conjunto cognitivo oferece as possibilidades para a aquisição, manutenção e transformação do conhecimento, por meio de imagens, noções, ideias e representações. É o conjunto que permite rever e reelaborar o passado, fixar e analisar o presente e projetar o futuro.

Pott (2019, p. 124)

Munidos das compreensões sobre afeto, motor e cognição, torna-se possível concluir que estes três conceitos formam um conjunto funcional integrado. Portanto, a pessoa ou sujeito emerge integralmente da inter-relação entre eles, dialeticamente.

Agora é possível avançar no entendimento dos estágios de desenvolvimento, pois eles só ocorrem mediante a dialética descrita acima e através das inter-relações entre o afeto, o motor e, a cognição.

O primeiro estágio do desenvolvimento na teoria walloniana é descrito por Souza (2022, p. 197) da seguinte maneira.

Impulsivo-emocional (0 a 1 ano). Neste primeiro estágio, o bebê expressa sua afetividade por meio de movimentos descoordenados como forma de resposta à sua sensibilidade e ao seu desconforto corporal. O principal recurso de aprendizagem do bebê é a fusão com seu cuidador, em especial com a figura materna e/ou paterna. O processo ensino-aprendizagem é pautado por contatos corporais.

Souza (2022, p. 197)

O segundo estágio é dissertado por Souza (2022, p. 197) assim.

Sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos). A criança desenvolve habilidades importantes para seu processo de socialização, dispondo da fala e da marcha como recursos para conhecer e acessar o mundo e a si mesma. Acontece pela oferta de diversas experiências que possibilitam à criança explorar espaços, texturas e situações. É necessário a disposição do adulto para responder aos constantes questionamentos.

Souza (2022, p. 197)

Vamos agora visualizar o terceiro estágio descrito por Souza (2022, p. 199).

Personalismo (3 a 6 anos). A principal característica é a descoberta de si como alguém diferente das outras crianças e adultos. Acontece pela oferta de diferentes atividades e a possibilidade de escolhas pela criança daquelas de maior atração. A criança está constituindo sua identidade e já é capaz de recusar aquilo que não se identifica ou não deseja.

Souza (2022, p. 199)

O quarto estágio é definido por Souza (2022, p. 200) da seguinte maneira.

Categorial (6 a 11 anos). O processo de diferenciação está mais consolidado, dando condições para a criança explorar com maior tranquilidade o mundo externo e interno. A criança já apresenta um pensamento mais abstrato. O processo de aprendizagem se dá pela descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos, havendo o predomínio do pensamento lógico.

Souza (2022, p. 200)

Souza (2022, p. 201) expressa o quinto e último estágio da forma que se segue.

Puberdade e adolescência (11 anos em diante). A característica principal é a exploração de si mesmo, na busca da construção de uma identidade, expressa em questões como: “quem sou eu? O que serei no futuro?”. É a oposição, uma vez que oferece a possibilidade de identificação e diferenciação entre ideias, valores e concepções.

Souza (2022, p. 201)

Com todo esse aparato teórico, deduz-se que, o desenvolvimento humano acontece quando os fatores sociais interagem com as características biológicas, fazendo emergir um sujeito quando seus aspectos de sociabilização transpõem os aspectos biológicos.

Por último e importante, é preciso relacionar o pensamento e a linguagem como condutores e possibilitadores do desenvolvimento da criança. A linguagem é o caminho pelo qual o sujeito expressa o que sente, e desenvolve a capacidade de representação de si e do mundo que o cerca, desenvolvendo-se com a função de organizar o pensamento infantil (Souza, 2022).

Como observado no desenvolvimento deste trabalho, a teoria de Wallon é bastante complexa e exige empenho para ser bem elaborada, como atesta Silva (2007, p. 11).

Sua visão dialética dos fenômenos psicológicos e sua escrita, que reflete em grande parte esse seu raciocínio, são algumas das dificuldades que o leitor iniciante tem de suplantar para compreender as ideias wallonianas.

Silva (2007, p. 11)

Conclusão

Este relatório apresentou uma síntese sobre a teoria de Henri Wallon e suas concepções a respeito do desenvolvimento infantil. Sua preocupação foi em criar uma teoria que explicasse as origens da psique e concluiu que, sua gênese e desenvolvimento acontece através da dialética entre o social e as funções biológicas da criança, possibilitando emergir um sujeito e sua consciência. Sujeito que é transformado pelo meio à medida que também o transforma.

Bibliografia

Desenvolvimento Humano I. / Vivian Moreira Rodrigues de Souza, Jair Modesto Filho, Erilda Jovina da Silva. – Londrina: Editora Científica, 2022.

Desenvolvimento Humano I. / Vivian Moreira Rodrigues de Souza, Jair Modesto Filho, Erilda Jovina da Silva. – Londrina: Editora Científica, 2022.

Desenvolvimento Humano I. / Vivian Moreira Rodrigues de Souza, Jair Modesto Filho, Erilda Jovina da Silva. – Londrina: Editora Científica, 2022.

Pott, Eveline Tonelotto Barbosa. Desenvolvimento humano I. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.

Pott, Eveline Tonelotto Barbosa. Desenvolvimento humano I. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.

Pott, Eveline Tonelotto Barbosa. Desenvolvimento humano I. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.

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Desenvolvimento Humano I. / Vivian Moreira Rodrigues de Souza, Jair Modesto Filho, Erilda Jovina da Silva. – Londrina: Editora Científica, 2022.

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Desenvolvimento Humano I. / Vivian Moreira Rodrigues de Souza, Jair Modesto Filho, Erilda Jovina da Silva. – Londrina: Editora Científica, 2022.

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Silva, D.L.DA. Do gesto ao símbolo:a teoria de Henri Wallon sobre a formação simbólica. Educarem Revista, n. 30, p 145 – 163, 2007.

Artigo reorganizado para mídia online com a finalidade de conforto de leitura, sem apagar a estrutura textual e linguagem original.

Originalmente escrito para entrega à Ma. Profª. Mariana P. Gentilli para fins de pontuação na matéria de Desenvolvimento Humano I.

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27 Mai 2025

Henri Wallon, o sujeito emerge da fricção.

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