Princípios Básicos da Psicanálise

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Por Samira Lima Féris |

Freud proporcionou uma nova visão da psique. A complexidade do comportamento humano e os avanços sociais exigem uma evolução na formação dos analistas. Este artigo visa explorar o texto freudianos e fazer um paralelo às necessidades contemporâneas dentro do percurso formativo.

Com o avanço no interesse pela psicanálise, entre os anos 1910 e 1920, houve um interesse em seus estudos teóricos por parte da classe médica europeia. Freud, em 1911, escreve o texto “Sobre princípios básicos da psicanálise” para um congresso médico dirigido a neurologistas e psiquiatras. O presente artigo é um convite para que se reflita acerca da orientação freudiana. Na contemporaneidade é possível transmitir a psicanálise apenas com as orientações freudianas? Quais orientações deixadas por ele devem ser mantidas?

S. Freud, em "Princípios Básicos da Psicanálise" (1913), estabeleceu as fundações da prática psicanalítica, destacando a importância do inconsciente, dos mecanismos de defesa e das experiências infantis na formação da personalidade. Freud enfatizou a necessidade de explorar profundamente os aspectos inconscientes para compreender e tratar os transtornos psíquicos.

Partindo das descobertas sobre a histeria, Freud descreve o tratamento clínico apresentando a possibilidade de anular a “repressão” como perspectiva terapêutica através da livre associação para que o conteúdo recalcado emergisse. Ele inclusive descreve a cadeia de formação sintomática e seus possíveis deslocamentos.

Quando fala sobre as predisposições neuróticas ressalta que, dentro da psicanálise, era obrigatório a investigação acerca da primeira infância o que o leva a concluir a importância do desenvolvimento infantil na psique. Freud reconhece que existe uma sexualidade infantil que depois do desenvolvimento se torna a sexualidade normal dos adultos. Cabe ressaltar que no entendimento de Freud, a pessoa tida como normal era aquela que convive bem com seus conflitos e obtêm êxito na sublimação.

Nossas pesquisas sobre a atividade sexual das crianças levaram a aprofundar a concepção do instinto sexual, baseando-a não em suas metas, mas em suas fontes. O instinto sexual possui em grande medida a capacidade de se desviar do objetivo sexual original e se voltar para outros mais elevados, não mais sexuais (“sublimação”). Assim, o instinto é capaz de fazer importantes contribuições para as conquistas sociais e artísticas da humanidade. (Freud, 2010. p.273)

Freud ressalta que em toda constituição existe a repressão de tais impulsos e discorre sobre incidentes prematuros na patogênese das neuroses. E que o direcionamento da libido se faz necessário para avanços. E que a característica da psicanálise e de seus avanços é o reconhecimento que os fatores do infantilismo, sexualidade e da repressão atuem de maneira simultânea na psique inclusive não os diferenciando, o que os diferenciava era como se deslocavam em cada pessoa. Freud via o infantilismo como um sistema psíquico inibido e o termo sexualidade já era abordado num sentido mais amplo.

Como o texto era uma apresentação das intenções da psicanálise a quem ainda a desconhecia, Freud trouxe como ela se constituiu para ele apresentando o trabalho de investigação dos sonhos, chistes, atos falhos, etc. Falou também sobre mitos e artes já demonstrando a pluralidade acerca dessa construção de saber. O convite foi para que essas pessoas experimentassem os efeitos da quarta ferida narcísica para quem sabe se abrirem ao novo que lhes era apresentado. A resistência observada por Freud na época por parte dos médicos continua em partes no aqui agora

Com o avanço nos estudos sobre a neurociência, nas próprias patologias, o percurso formativo contemporâneo passa por uma adaptação. Freud nos deixou um vasto arcabouço teórico acerca da psicanálise. Na atualidade as orientações de Freud ainda são essenciais, claro que a histérica de 1900 já não existe, porém, as novas manifestações da histeria estão cada vez mais presentes na prática clínica e na sociedade. Cabe a um analista “treinado”, seguindo palavras de Freud, essa investigação e interpretação. No entanto, a evolução desse homem, dessa sociedade e da investigação acerca da psique vem exigindo que a formação dos analistas também se adapte. E só é possível com um percurso baseado em suas orientações que respeite o tempo de análise pessoal do possível candidato – hoje diferente da experiência a época freudiana, de absorção e digestão do conteúdo teórico e que quando chegar o momento a própria supervisão. Se em 1911 Freud apresenta aos médicos as intenções da psicanálise hoje ela pode ser apresentada a qualquer pessoa que se interesse sobre não se restringindo a área de formação acadêmica.

Em conclusão, a formação contemporânea do analista deve ser dinâmica aproveitando os avanços para enriquecer e expandir os princípios básicos da psicanálise freudiana. Isso permitirá que os analistas estejam melhor preparados para enfrentar os desafios contemporâneos e oferecerem uma melhor escuta aos seus pacientes.

 

REFERÊNCIAS

Freud, S. (1913). Princípios Básicos da Psicanálise. Obras Completas - Volume 10: Cia das Letras

_____ . Início do tratamento. Obras Completas - Volume 10: Cia das Letras

01 Mai 2025

Princípios Básicos da Psicanálise

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percurso formativo formação do analista Psicanálise

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